sexta-feira, março 02, 2012

Histórias de médicos

Carlos Barreira da Costa, médico Otorrinolaringologista da mui nobre e Invicta cidade do Porto, decidiu compilar no seu livro A Medicina na Voz do Povo, com o inestimável contributo de muitos colegas de profissão, trinta anos de histórias, crenças e dizeres ouvidos durante o exercício desta peculiar forma de apostolado que é a prática da medicina. E dele não resisti a extrair verdadeiras jóias deste tão pouco conhecido léxico que decidi compartilhar convosco.

O DIÁLOGO COM UM PACIENTE COM PATOLOGIA DA BOCA, OLHOS, OUVIDOS, NARIZ E
GARGANTA É SEMPRE UM DESAFIO PARA O CLÍNICO


Ø       A minha expectoração é limpa, assim branquinha, parece, com sua licença, espermatozóides.
Ø       Quando me assoo dou um traque pelo ouvido, e enquanto não puxar pelo corpo, suar, ou o caralho, o nariz não se destapa.
Ø       Não sei se isto que tenho no ouvido é cera ou caruncho.
Ø       Isto deu-me de ter metido a cabeça no frigorífico. Um mês depois fui ao Hospital e disseram-me que tinha bolhas de ar no ouvido.
Ø       Ouço mal, vejo mal, tenho a mente descaída.
Ø       Fui ao Ftalmologista, meteu-me uns parafusinhos nos olhos a ver se as lágrimas saíam.
Ø       Tenho a língua cheia de Áfricas.
Ø       Gostava que as papilas gustativas se manifestassem a meu favor.
Ø       O dente arrecolhia pus, e na altura em que arrecolhia às imidulas, infeccionava-as
Ø       A garganta traqueia-me, dá-me aqueles estalinhos e depois fica melhor.


AS PERTURBAÇÕES DA FALA IMPACIENTAM O DOENTE

Ø       Na voz sinto aquilo tudo embuzinado.
Ø       Não tenho dores, a voz é que está muito fosforenta.
Ø       Tenho humidade gordurosa nas cordas vocais.
Ø       O meu pai morreu de tísica na laringe.


OS PROBLEMAS DA CABEÇA SÃO MUITO FREQUENTES

Ø       Há dias fiz um exame ao capacete no Hospital de S. João.
Ø       Andei num Neurologista que disse que parti o penedo, o rochedo ou lá o que é....
Ø       Fui a um desses médicos que não consultam a gente, só falam pra nós.
Ø       Vem-me muitos palpites ruins, assim de baixo para cima....
Ø       A minha cabecinha começa assim a ferver e fico com ela húmida, assim aos tombos, a trabalhar.
Ø       Ou caiu da burra ou foi um ataque cardeal.


OS APARELHOS GENITAL E URINÁRIO SÃO OBJECTO DE QUEIXAS SUI GENERIS

Ø       Venho aqui mostrar a parreca.
Ø       A minha pardalona está a mudar de cor.
Ø       Às vezes prega-se-me umas comichões nas barbatanas.
Ø       Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma infecção na ponta da natureza.
Ø       Fazem aqui o Papa Micau (Papanicolau)?
Ø       Quantos filhos teve? - pergunta o médico.
- Para a retrete foram quatro, senhor doutor, e à pia baptismal levei três.

Ø       Apareceu-me uma ferida, não sei se de infecção se de uma foda mal dada.
Ø       Tenho de ser operado ao stick. Já fui operado aos estículos.
Ø       Quando estou de pau feito... a puta verga.
Ø       O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de manhã.


AS DORES DA COLUNA E DO APARELHO MUSCULAR E ESQUELÉTICO SÃO DIFÍCEIS DE SUPORTAR

Ø       Metade das minhas doenças é desfalsificação dos ossos e intendência para a tensão alta.
Ø       O pouco cálcio que tenho acumula-se na fractura.
Ø       Já tenho os ossos desclassificados.
Ø       Além das itroses tenho classificação ossal.
Ø       O meu reumatismo é climático.
Ø       É uma dor insepulcrável.
Ø       Tenho artroses remodeladas e de densidade forte.
Ø       Estou desconfiado que tenho uma hérnia de escala.


O PORTUGUÊS BEBE E FUMA MUITO E DESCULPA-SE COM FREQUÊNCIA

Ø       Tomo um vinho que não me assobe à cabeça.
Ø       Eu abuso um pouco da água do Luso.
Ø       Não era ébrio nato mas abusava um pouco do álcool
Ø       Fujo dos antibióticos por causa do estômago. Prefiro remédios caseiros, a aguardente queimada faz-me muito bem.
Ø       Eu sou um fumador invertebrado.


O APARELHO DIGESTIVO ORIGINA SEMPRE MUITAS QUEIXAS

Ø       Fui operado ao panquecas.
Ø       Tive três úlceras: uma macho, uma fêmea e uma de gastrina.
Ø       Ando com o fígado elevado. Já o tive a 40, mas agora está mais baixo.
Ø       Eu era muito encharcado a essa coisa da azia.
Ø       Senhor Doutor, a minha mulher tem umas almorródias que, com a sua licença, nem dá um peido.
Ø       Tenho pedra na basílica.
Ø       O meu marido está internado porque sangra pela via da frente e pinga pela via de trás.
Ø       Fizeram-me um exame que era uma televisão a trabalhar e eu a comer papa.
Ø       Fiz uma mamografia ao intestino.
Ø       O meu filho foi operado ao pence (apêndice) mas não lhe puseram os trenós (drenos), encheu o pipo e teve que pôr o soma (sonda).


OS MEDICAMENTOS E OS SEUS EFEITOS PRESTAM-SE ÀS MAIORES CONFUSÕES

Ø       Ando a tomar o Esperma Canulado - Espasmo Canulase
Ø       Tenho cataratas na vista e ando a tomar o Simião - Sermion
Ø       Andei a tomar umas injecções de Esferovite - Parenterovit
Ø       Era um antibiótico perlim pim pim mas não me fez nada - Piprilim
Ø       Agora estou melhor, tomo o Bate Certo - Betaserc
Ø       Tomo o Sigerom e o Chico Bem - Stugeron e Gincoben
Ø       Ando a tomar o Castro Leão - Castilium
Ø       Tomei Sexovir - Isovir
Ø       Tomo uma cábulas à noite.
Ø       Tomei uns comprimidos jaunes, assim amarelados.
Ø       Tomo uns comprimidos a modos de umas aboborinhas.
Ø       Receitou-me uns comprimidos que me põem um pouco tonha.
Ø       Estava a ficar com os abéticos no sangue.
Ø       Diz lá no papel que o medicamento podia dar muitas complicações e alienações.
Ø       Quando acordo mais descaída tomo comprimidos de alta potência e fico logo melhor.
Ø       Ó Sra. Enfermeira, ele tem o cu como um véu. O líquido entra e nem actua.
Ø       Na minha opinião sinto-me com melhores sintomas.


O QUE OS DOENTES PENSAM DO MÉDICO

Ø       Também desculpe, aquela médica não tinha modinhos nenhuns.
Ø       Especialista, médico, mas entendido!
Ø       Não sou muito afluente de vir aos médicos.
Ø       Quando eu estou mal, os senhores são Deus, mas se me vejo de saúde acho-vos uns estapores.
Ø       Gosto do Senhor Doutor! Diz logo o que tem a dizer, não anda a engasular ninguém.
Ø       Não há melhor doente que eu! Faço tudo o que me mandam, com aquela coisa de não morrer.